Conversa interior: Como fazê-la funcionar
24/07/2010 por
Quando
crianças, costumávamos caçoar daqueles que víamos falando sozinhos, não é
certo? Ríamos e dizíamos que estavam ficando birutas! Porém, os psicólogos
dizem que todas as pessoas fazem isso diariamente. Falamos conosco mesmos sem
parar e o que nos dizemos afeta permanentemente nossos pensamentos,
interpretações e comportamento. Guiamo-nos, humilhamo-nos, apoiamo-nos,
criticamo-nos, motivamo-nos e duvidamos de nós mesmos nesse diálogo interior.
O que nos dizemos pode pressionar-nos,
fazer-nos desmaiar, acalmar-nos ou fazer-nos vencer nossos temores. Suponhamos
que você esteja procurando um emprego e
lê um anúncio interessante. E agora, deve apresentar-se para a entrevista?
Muito vai depender do que dirá a si mesmo. Se pensar: “Puxa, nunca conseguirei
aquele emprego. Não há possibilidade alguma de me escolherem”, é quase certo
que não fará qualquer tentativa a respeito. Porém, se disser: “Bem, esse é um
desafio, mas acho que posso conseguir. Vou tentar”, o modo positivo de encarar
a situação vai encorajá-lo a marcar a entrevista.
Por estranho que pareça, a conversa consigo mesmo é como uma
profecia. Aquilo que por tanto tempo você
pensa que irá acontecer, acaba se concretizando.
Como interpretamos os
acontecimentos no autodiálogo
Outro fato interessante quanto à conversa consigo mesmo, é que
ela afeta a maneira como interpretamos os acontecimentos. Muitos entendem que
tudo o que acontece em sua vida faz com que se sintam zangados, ofendidos,
abatidos ou ansiosos. Graças ao trabalho de
Albert Ellis, Aaron Back e Daniel Melchenbaum, só para mencionar uns poucos,
sabemos que é nossa atitude mental diante das ocorrências da vida, o que
realmente produz reações diante de qualquer situação.
Por exemplo, um rapaz traz para a
namorada uma dúzia de rosas vermelhas. Ela o observa chegando e pensa: “Ele
realmente me ama. Sou preciosa para ele. Ele se lembrou do meu aniversário!”
Qual, você pensa, será sua reação? Positiva, sem dúvida. Mas, por outro lado,
suponhamos que ela diga a si mesma: “Esse sujeitinho! Ele sabe que descobri que
ele tem saído com a Patrícia e agora traz flores para me agradar! Não quero
mais nada com ele!” Como a namorada irá enfrentá-lo agora? Provavelmente de
maneira pouco amistosa. Mesmo que ele diga, meloso: “Mas é somente a você que
eu amo”, se ela não mudar de idéia a seu respeito, a reação será negativa.
Se ela ficará deprimida ou não vai
depender do que dirá a si mesma. Imaginemos que cisme: “Eu não sirvo para nada.
Ninguém gosta de mim e é por isso que ele está saindo com outra”, então é quase
certo que tal pensamento diminuirá seu amor-próprio, e possivelmente lhe trará
uma depressão. Se, contudo, diz a si mesma, “Alegro-me por ter descoberto como
ele é. Mereço algo melhor. Estou disposta a esperar por alguém que me ame como
mereço”, então poderá esquecer mais rapidamente o acontecido.
Você percebeu que não é propriamente o evento que
afeta os sentimentos, porém o que cremos e nos dizemos sobre ele.
Conversa interior negativa
Uma das histórias bíblicas que
ilustra quão poderosa é a conversa consigo mesmo acha-se em I Reis 18 e 19.
Nela Deus pede a Elias para confrontar o Rei Acabe, a Rainha Jezabel e seus 450
profetas de Baal, a fim de pôr às claras quem era mais poderoso – Baal ou o
Deus de Israel. Após um longo dia, depois de observar os profetas de Baal
gritarem e suplicarem a seu deus sem êxito, Elias entra em cena e faz uma
oração simples. Subitamente, o sacrifício que havia sido encharcado com água é
devorado por um raio do céu. Tão logo Elias orou pedindo que a seca de três
anos terminasse, os céus “se enegreceram com nuvens e vento, e veio uma grande
chuva” (I Reis 18:45).
Que dia vitorioso para o profeta e
todos os adoradores de Deus! O poder divino se manifestou diante de todos. Mas
é estranho que logo depois desse triunfo, Elias ficou tão temeroso diante de
Jezabel que não somente fugiu para o deserto para se esconder, como também
desejou a morte: “Toma agora a minha vida” (I Reis 19:4). Isso parece incrível!
Como pôde Elias num minuto ter experimentado o grande poder de Deus, e em
seguida fugir amedrontado?
Esse é um bom exemplo de uma
irracional conversa interior. Provavelmente Elias tenha cogitado: “É melhor eu
sair daqui. Jezabel vai me matar. E se Deus não puder me ajudar? Estou
perdido!” Embora o profeta estivesse cercado por patentes mostras do poder de
Deus, sua conversa negativa o derrotou.
Fugindo do negativo
Graças a Deus podemos livrar-nos
da conversa interior negativa e fazer com que nossos pensamentos trabalhem a
nosso favor, e não contra nós. Como? Experimente estes cinco passos:
Primeiro: ouça sua
conversa interior e treine-se para ouvir os exatos pensamentos que produzem
suas emoções. Visto que nossas atitudes e crenças se desenvolvem através da
vida e, por vezes, resultam do feedback que recebemos de pessoas queridas,
professores, amigos, etc., elas tendem a ocorrer num nível inferior de
consciência. Sintonizando os pensamentos, identificando-os e avaliando-os,
podemos decidir como vamos reagir a uma determinada situação. Podemos mudar os
pensamentos que nos levam ao fracasso somente se primeiro os reconhecermos. Se
você não os identificar, eles continuarão a dominar sua mente.
Segundo: Identifique
as mensagens desfavoráveis em seu diálogo interno. Esclareça o que está
desvirtuando e debilitando seus pensamentos. Palavras-chaves como “nunca”, e
“sempre” são absolutas. Afirmações como “Nunca entrarei no time” ou “Sou sempre
um fracasso”, não somente são destrutivas como também irracionais. Suponhamos
que você queira praticar um novo tipo de esporte – esquiar, por exemplo. Se cai
com freqüência, tende a ficar frustrado. Em sua conversa interior você poderá
ouvir o corpo dizer que está fora de forma e que devia se preparar melhor para
o que pretende. Não é assim? Se é, faça algo a respeito. Fique nos declives
mais fáceis, tome lições de esquiação, adote um plano diário de treinamento.
Caso porém, ao ouvir a conversa interior, disser a si mesmo: “Sou burro e nunca
aprenderei a esquiar”, isso está indicando que você impôs barreiras ao próprio
sucesso.
Terceiro: Procure
livrar-se das palavras negativas, dizendo a si mesmo: “Chega!” Esse
posicionamento o ajudará a escapar do ciclo negativo no qual provavelmente se
encontra. Quanto mais cedo puder excluir essas atitudes, tanto melhor.
Quarto: Substitua a
conversa negativa por posturas positivas. Inserir o positivo tão depressa
quanto possível é a chave. Por exemplo, se você se apanhar dizendo: “Nunca
passarei no exame”, interrompa esse pensamento negativo imediatamente e
substitua-o por outro mais racional e correto, tal como, “Posso passar se me
preparar adequadamente para o exame. Não sou bobo. Já passei em outras provas.
Vou começar a estudar neste minuto”. Esse pensamento não somente é mais
verdadeiro, como também substitui a atitude negativa por uma positiva e
produtiva.
Quinto: Mantenha um
relacionamento íntimo com Deus, permitindo que Ele habite em você, de modo que
Sua paz e palavra estejam no interior do coração, “em toda sabedoria”
(Colossenses 3:16). Uma vida dedicada a Deus motiva-nos a dizer: “Cristo vive
em mim” (Gálatas 2:20), e mostra que escolhemos ser influenciados por Sua
Palavra. Ao passo que os pensamentos de outras pessoas têm origem em suas
próprias mentes e são afetados por si mesmas e por outros, os cristãos crêem
que podem ser influenciados pela conversa interior que tem sua origem no reino
espiritual. Em outras palavras, a mente humana pode achar novos recursos em
Deus, o qual tem condições de direcionar e aprimorar o diálogo
interior. Pensamentos como “Não sou bom para nada” podem ser transformados
em “Deus me ama tanto que enviou Seu Filho para morrer em meu lugar e
conceder-me vida eterna. Sou valioso para Ele” (João 3:16). Mensagens do tipo
“estou só e não tenho ninguém” podem ser trocadas pelas confortadoras palavras
de Cristo: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós” (João 14:18).
Os pensamentos de Paulo, quando
compreendidos à luz da importância de uma conversa interior positiva,
revestem-se de um novo significado: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é
verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o
que é amável, tudo o que é de boa fama — se há alguma virtude, e se há algum
louvor, nisso pensai… e a paz de Deus que excede todo o entendimento, guardará
os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Filipenses 4:8-9,
7).
Repetindo esses passos, você
poderá adquirir o hábito de pensar positivamente. Seja paciente consigo mesmo.
Pode levar semanas ou meses a refutação de seu repertório de mensagens
negativas. Identificar essa espécie de “endoutrinação própria” e substituí-la
por um diálogo interior mais saudável tomará algum tempo, assim como demanda
tempo romper com um velho hábito. Pode exigir muito esforço, mas no fim valerá
a pena. Você ficará surpreso de como se tornará mais eficiente cada dia,
desfrutando uma vida mais saudável, mais feliz e produtiva.
Nancy
J. Carbonell (Ph.D.,
Andrews University) é professora associada de psicologia na Universidade
Andrews. Seu endereço postal: Andrews University; Berrien Springs, Michigan
49104; EUA. E-mail: carbonel@andrews.edu
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